sábado, 28 de julho de 2012

O Presente


Uma comida tenho para comer
E essa comida não é a comida de igreja
Não é feita de música, nem de caras contritas
Muito menos de egoístas preces aflitas

Uma bebida tenho que beber
Não é essa adoração de cantorias e choros que entregam,
Que têm com a certeza de quem cumpriu o seu dever
Mil razões para de mim se esquecer.

Hoje eu estou muito solitário, a procura de quem busque por mim
Uma solidão, que vá lá, se resolveria com uma conversa
Pena que vocês, meus filhos, estão com tanta pressa
Será que por esse velho pai ninguém mais se interessa

Que frieza, que gelo
Será que esse pessoal não vai entender
Esse fogo santo que tentam a alma encher
Sempre se apaga
Se o pobre o corpo não se agasalha?

Ah não! Deus não é um cachorro que precise ser alimentado
Muito menos um menino carente de paparicos
Não é um velho ou um doente
Nem gente pobre morrendo de frio,
que na cama os filhos amontoa, e pede a Jesus para os acudir
Pelo menos até o sol surgir.

Mas se esses pequeninos você acalentar
Ao mendigo você alimentar
Aos necessitados, com doce servidão, acolher
Ajudar esse vizinho pobre, esse velho,
Toda essa gente que não tem como pagar
Não se assuste com meu sorriso... É Adoração divina
Evangelho puro e simples,
É Graça, é amor, subindo às minhas narinas

Vinde, benditos de meu Pai,
Venham para que eu agora os acalente
porque o bem que fizestes a cada um destes
A mim mesmo, presentes impagáveis, oferecestes.

Leonardo Cordeiro

quarta-feira, 18 de julho de 2012

procrastinação


Há alguns anos li em um livro que um dos melhores remédios para a procrastinação é uma boa noite de sono. E depois outra, e outra.

Esse palavrão, procrastinação, nada mais é que a postura de "deixar para depois" o que pode ser feito agora. Em geral, retardamos o que não nos agrada, num crescente que torna a pessoa, de um lado, desfuncional, às vezes totalmente, ou pouco produtiva, "enrolada", e do outro lado, culpada, muito culpada.

Eu, na escola, adquiri este hábito. Quase todos agiam assim na minha época. Deixar para estudar no último momento. Era até algo cultuado. "Olhe, ele consegue notas altas pegando nos livros somente na última hora". Até o Bill Gates cultivava este tipo de atitude, em Havard, onde passava o tempo todo jogando pocker, e depois no trabalho, até se juntar com os japoneses, que o ensinaram o valor da disciplina.

Tenho dormido cedo. Meu trabalho, fluido mais facilmente. Sim, me sinto culpado quando, depois de uma noite mal dormida, não consigo fazer o que é preciso, e o trabalho vai se avolumando.

Apesar de me saber perdoado até nos meus ralos cabelos da careca, sinto culpa quando não produzo no trabalho. Existe uma culpa boa? Sim, a que me chama para realidade, que me mostra estar errado.

Até porque quem não sente culpa são os psicopatas clássicos. Tipo "psicose". 

Enfim, tenho dormido melhor, trabalhado melhor, e... A culpa foi embora. Claro, tem também uma vontade, uma necessidade interna para a quebra do hábito. Porque esta, a procrastinação, é um vício mental.

Quebrável este vício? Ora, claro. Tão mais facilmente quanto melhor disposto você estiver para o trabalho, tão mais facilmente quanto mais você praticar o exercício diário de fazer, não o que você gosta, mas sim o que é preciso! E aí em você irá nascer um prazer, não de fazer o que gosta, mas de gostar do que faz.

E sim, você se livrará disso tão mais facilmente quanto menos culpa você sentir em relação a isso, e creia, em relação a vida.

E NEle, ah eu sei! NEle eu sou perdoado.

Macaé, 18 de julho de 2012
Leonardo Cordeiro

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Convencidos, convencedores e converseiros

Max von Sydow e Julia Andrews interpretando missioários no ótimo filme Hawaii, de 66



Recebi um email-enforme de um de um missionário em abril, com uma mensagem que me arrepiou, não por alguma maldade da parte dele, mas pelo noção distorcida da Graça de Deus, e por uma visão exagerada do Deus do velho testamento em detrimento de Jesus. Eu só publico agora, algum tempo depois, para preserva-lo de qualquer constrangimento.

Sinceramente, constrangido, me sinto eu, tendo de escrever para gente que se dá pela causa do evangelho.

Acho que a teologia da prosperidade, que prega a impossibilidade de sofrimento para aqueles que creem em Jesus, e a tal batalha espiritual (que sempre inventa uma brecha, um buraco, para justificar porque em alguns - e em tempos de crise, quase todos - o evangelho não se materializa em dinheiro no bolso), acho que essas teologias fizeram e fazem um grande estrago na cabeça de muita gente boa da igreja evangélica brasileira. E a cada dia me convenço que esses muitos são muitos mesmo.

Não sei bem o pôrque disso. Desde que a Verdade me alcançou, as coisas se discerniam em mim, e mesmo quando eu seguia o caminho errado, lá no fundo eu sabia...

Às vezes acho que dos convencidos destas teologias, muitos são convencidos de si mesmos, convencedores do seu convencimento, converseiros de uma auto-ajuda que não ajuda, no máximo atenua, aquilo que só É pela pregação do Evangelho.

Não sei se esses da carta se enquandram nesta categoria, espero que não, maas isso já é assunto entre o Pai e cada um de seus Filhos.


A Carta:
Oi,
 

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Amor, paixão, e a loucura da Cruz


O amor é uma atitude. Uma consciência que supera o hábito e se materializa na vida do outro. O amor, quando amor maior, age ante o pior sentimento, ninguém o para, é uma locomotiva desgovernada rumo ao outro. Às vezes os trilhos não aguentam o amor. Às vezes, pelo medo do amor, nós o matamos. Em raros casos, quando se transcende o medo, e amamos para além das convenções, matam o nosso amor, e nos matam com ele. É a sina de quem ama. E quem ama não entende isso como sina. 

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Não durma

Outro dia vi a Fernanda Monte-Negro dizer qual seu conselho para os que chegam a ela motivados em ser atores.

- Desista!

É o seu conselho. Ela explica:

- Se ele, desistindo,  for para casa e se então não conseguir dormir porque aquilo é mais forte do que ele, e se aquilo o incomodar a ponto de fazer-lhe voltar para o sonho, então ele pode ser um ator. Porque o que acontece é que a maioria se torna ator por causa das transas, da ilusão da fama e do dinheiro...

Volto com as palavras de Jesus, ditas após Pedro o "aconselhá-lo" à moderação, a desistir daquela história de ir a Jerusalém sofrer o castigo da Cruz nas mãos dos religiosos:

- Se alguém quer ser meu discípulo, negue-se a si mesmo, tome cada dia sua cruz e siga-me!

Se alguém quer... Se alguém quer?