segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Como nos tempos antigos

Na semana do natal dei carona a um rapaz no alto do morro do Itaoca, quando viajava para Macaé. O rapaz fedia um cecê muito forte, daqueles que produz ânsias de vômito. Coloquei o ar condicionado no talo e seguimos conversando. Pedro Paulo, esse é o nome dele, é de Saquarema, mas mora em Vila Velha, no setor 4, seja lá o que isso for. Estava indo tentar tirar algum sustento no verão, vendendo nas praias. Também estava indo ver os seus, embora seu dois pais já tenham partido. Ele se referia com especial apreço pelo pai adotivo, que ele sabe que está no céu.

Sem estudos, carregando aquela ignorância triste que condiciona famílias inteiras de gente pobre no Brasil, perdeu um emprego tempos atrás por não ter (nem saber como fazer para ter) carteira de trabalho e CPF. Seu pai adotivo tinha arrumado essa vaga.

Cresceu no campo, gosta do campo. Sabe lavrar a terra, trabalhar com milho, hortaliças, frutas... Aproveita os espaços nos fundos das casas e nos terrenos baldios para plantar e distribuir com seus vizinhos. Não perguntei como foi parar em Vila Velha. Uma pena.

No carro, tocava João alexandre, um músico que fala de Jesus e aplica todo seu talento num infindável mix de ritmos, às vezes bossa, às vezes samba, às vezes jazz ou baião. Ele gostou... Quando se tem sofisticação musical, se tem. Perguntei se toca algum instrumento, ele disse que toca pandeiro.

Vinha de caronas e caminhadas, dormindo na rua, nas beiras da estrada, sem dinheiro, carregando duas bolsas de roupa. Não sei há quanto tempo estava sem comida ou sem água. Deixei-o na saída de Macaé, com alguns trocados que tinha no bolso, uma bela quentinha e uma garrafa de água. Perguntei até onde ia - Acho que chego em Búzios a noitinha.

Fiz o retorno com meu carro e do retrovisor já o via caminhando, como faziam os antigos, como fizeram José e Maria, grávida, para viajarem 60 km de Nazaré à Jerusalém, como fez Jesus e todos de seu tempo, e na verdade, todos em quase todo o tempo dos homens na Terra.

Voltei feliz por ter feito uma pequena boa ação, coisa comum nos tempo antigos. em que as pessoas se ajudavam o tempo todo. Fiquei pensativo no que nos tornamos... Mais ilhados, mais acelerados, olhando cada vez mais para nossos celulares, conscidentemente bem acima dos umbigos.

Hoje, dia 26, já passou o natal, mas a chance de ajudar os que atravessam a sua caminhada continuarão em sua vida, talvez todos os dias.

Se dê esse presente.

Leonardo