terça-feira, 5 de abril de 2011

Carta a um jovem pastor

Escrevi esta carta para um amigo há uns dias, e a publico agora, com muito carinho por ele, e na esperança que esta carta possa alcançar muitos outros que como ele ensinam o evangelho.

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Meu amigo Daniel,

Como fiquei feliz de saber que você estará ensinando e aconselhando a um grupo de pessoas, uma igreja.

Sim, a responsabilidade é enorme, e também é verdade que todos nós sabemos em parte, e logo ensinamos em parte, não tem jeito; mas a responsabilidade está em ensinar e aconselhar no melhor das suas forças, conforme a verdade que você discerniu.

É interessante que a leitura de alguns grandes expoentes do passado pareça banal, comum, agora para nós. E incrível como eles passaram disapercebidos por assuntos tão sérios...
O importante é que fizeram o seu melhor, para o meio e para a época. Isso vale para os primeiros cristãos, vale para os que se perderam na institucionalização da fé, vale para os reformadores, para Lutero e Calvino, vale para os batistas que trouxeram o evangelho para cá a 100 anos atrás, com todas as manias puritanas, isso vale para os de hoje e vale para mim e para você.

Sobre a congregação, ensine-os a ler a escritura a luz de Jesus, comparando coisa com coisa, comparando o que Jesus dizia a um determinado grupo sem se esquecer de como ele se comportava com essas pessoas. Ensine-os a ler o velho testamento a luz de Jesus, e o que houver nas escrituras que não se assemelhe com o que Jesus ensinou ou agiu, que seja entendido apenas como a melhor expressão possível para aquela época.

Fazendo assim desaparcem questões como o porque dos rigores da lei, ou as sentenças de morte da torá, ou o porque do genocídeo dos cananeus, etc.

E mais importante, desaparece a tentação de se substituir a Cruz, o Cordeiro imolado antes da fundação do mundo, pela auto-justificação através de ritos ou regras morais, que nada mais são que uma forma moderna da lei judaica.

Isso é tão sério que Jesus, ao advertir os Fariseus, frequentemente alertava os discípulos, os apostolos, para que não caíssem na mesma auto-justificação.

Ensine-os sobretudo a ler os Evangelhos, o tempo todo.

Só assim a escritura se torna Palavra.

Ensine-os a Graça, o favor imerecido de Deus, o sacrifíco de Jesus que nos redime de todos os pecados, de uma vez por todas, ensine-os que na cruz Jesus rasgou as promissorias que o Diabo tinha nas mãos para nos encher de culpa... Ensine-os que estamos perdoados! Ensine-os que não há mais culpas do passado para se sofrer!

Ensine-os que devemos perdoar, porque Ele nos perdoou! E isso não pode ser relativizado. É um mandamento e uma atitude de alma.

Ensine-os que quem perdoa pode continuar com um sentimento de afastamento de quem o magoou, mas jamais se negará a ajudar essa pessoa. Esse é o perdão que o amor prático produz em alguem, e se a pessoa se comportar como inimigo, então que o sentimento de afastamento permaneça, até por segurança. Mas se não, a atitude de querer bem ao próximo irá amainar os sentimentos até que tudo seja esquecido.

Amor prátco não é sentimento, é atitude. Decidimos ajudar, e o hábito sentimental vem com o tempo.

Ensine-os sobre a generosidade... O inverso disso, que foi o amor as riquezas, o uso do dinheiro como Deus oculto, como certeza de paz e tranquilidade para o futuro, foram temas dos mais falados por Jesus.

Ensine-os a honrarem pai e mãe, a respeita-los e não deixar que passem necessidade nesta vida.

Ensine-so a ajudar os vizinhos, os parentes. Você está indo para um lugar de muitas carências, isso terá muita aplicação!

Ensine-os o dízimo, não como mecanismo de barganha, de chave para abertura das janelas do céu. Não, não ensine isso, primeiro porque Deus não faz barganhas, Ele faz com que a chuva caia sobre maus e bons... Segundo, porque não somos judeus vivendo uma reconstrução do País, sem sistema de impostos e tudo o mais que perfazia o contexto de Malaquias. Terceiro, porque a generosidade do evangelho, a alegria de ajudar é o que moveu Paulo e as igrejas da época, conforme vemos no novo testamento, e é o que move o meu e o seu coração.

Ensine-os sobre o contentamento, sobre apreciarmos o que Deus nos dá.

Já viu algum marido contente com sua esposa desejar outra?

Quem está contente não cobiça, porque não sente falta.

E lembre-se, alguns ali talvez saibam muito mais do evangelho do que eu e você juntos.

Aconselhe com todo amor, como quem aconselha a um filho. E cuidado para não invadir a vida das pessoas. Somos igreja, somos irmãos, mas conheço um monte de pastores que não dizem para seus filhos e irmãos o que dizem para as ovelhas.

Por outro lado, não permita que façam de você um oráculo, como quem quer transferir a responsabilidade de tomar suas próprias decisões para o outro. Esses em geral são os que culpam a você e a Deus pelos problemas de seus próprios erros.

Muito cuidado com as exclusões. Jesus não expulsou Judas do meio dos apóstolos. Você tem dúvidas que Ele não sabia que Judas era ladrão, e que roubava da bolsa de coleta?

Visite os irmãos, ore com eles, leia a bíblia junto em suas casas.

Você crescerá muito no Espírito com tudo isso.

Muita cautela com todos os ventos de doutrina, na verdade, com esses furacões televisivos que tem assolado o povo brasileiro. Seja escravo do evangelho, confira tudo com o evangelho, compare tudo ao evangelho.

E peça discernimento a Deus o tempo todo. Discernimento espiritual.

A congregação para onde está indo deve ter gente boa de Deus, e gente nem tão boa assim, gente do amor, e gente que não perdoa, gente que só abre a boca para falar o bem, e gente da fofoca. Seja paciente, e não deixe de pregar a palavra. E se não o quiserem ouvir mais, então saia.

Não foram em muitos lugares que Jesus pode ficar um longo tempo. E não era na Cesaréia de Felipe, pagã... O problema estava em Jerusalém, em Nazaré...

Deus te abençoe com todo o Seu amor!

E sempre que quiser um irmão para conversar e orar, será só bater na casa rosa.

Saudações,

Léo
Faz Peróba - Italva

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