sábado, 16 de abril de 2011

Quebrando a Banca

Jesus, sabendo que a sua hora estava chegando, depois de chegar em Jerusalém aclamado pelo povo como o Messias tão esperado, entrou no pátio do Templo de Herodes e expulsou os que compravam e vendiam, tombou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos comerciantes de pombas. Isso tudo com um chicote na mão.

Não se enganem os que imaginaram, ao ler o parágrafo acima, um bando de pobres camelôs e indigentes fugindo da polícia. Os Saduceus, o grupo religioso composto pelos sacerdotes que receberam dos romanos o controle do Templo para manutenção da paz em Jerusalém, há muito que se haviam viciado nos esquemas de extorsão do povo que ali comparecia todos os anos para sacrificar a Deus.

Eles haviam criado uma espécie de “selo de qualidade” para os animais a sacrificar, de sorte que apenas os animais vendidos por eles no pátio do templo eram aceitos, ao preço que bem entendessem. E para quê sacrificar tantos animais se eles podem voltar para o pátio para serem vendidos de novo... A lei de Moisés previa para os pobres o sacrifício de pombinhas, mas essas também estavam lá, a preço de ouro...
Também não aceitavam oferta em dinheiro romano ou grego, e o câmbio do templo não era menos extorsivo.

Por causa disso, os pobres acabavam vivendo um inferno duplo. Não tendo condições de comprar as pombinhas saducéias, acabavam por ser rotulados de “pecadores”, lançados em um inferno existencial, vivendo a culpa de não serem bons o bastante para Deus. E como as sinagogas daqueles dias tinham função de “fórum” para o julgamento de causas menores e questões como herança e divórcio, os pobres “pecadores” acabavam também excluídos dos poucos direitos legais que possuíam.

Parece até um retrato de nossos dias: o uso da religião para o enriquecimento de uns poucos líderes em detrimento de toda uma massa de gente boa, porém cega pela carência.

Jesus, de maneira pensada, quebra a banca dos religiosos de Jerusalém. 

E Ele não estava nem um pouco preocupado com a profanação do Templo de Herodes. Dessa grandiosidade do mundo antigo (umas das mais belas construções de todos os tempos desse gênio surtado) Jesus apenas disse: não ficará pedra sobre pedra. A profanação do templo, ou melhor, dos milhares de templinhos, que consumiu Jesus em zelo, foi a profanação dessas milhares de vidinhas que estavam lá buscando a Deus.

Sim, mais do que qualquer coisa, esse ato foi uma expressão do amor que constrange  para a necessidade de quebrar o jugo que escraviza os necessitados. E Essa é a justiça do evangelho: no que se refere a nós, nenhuma reação contra o opressor, apenas confiança em Deus,  e no que se refere ao próximo, esse constrangimento, essa fome e sede de justiça que defende o oprimido...



Aquele também foi um ato simbólico do que significa Sua presença: um rompimento com toda e qualquer forma de manipulação da fé. E se uma atitude como essa significa perseguição pelos que tem seus ganhos prejudicados, que assim seja. 

Jesus foi criticado e perseguido o tempo todo por dar atenção e acolher em torno de si essa gente pobre, que era boa parte dos “pecadores” descritos nas falas dos fariseus, ao longo dos evangelhos.

Os líderes religiosos, de um lado odiavam a Jesus por minar dia após dia seu sistema de lucros e seu status quo de donos da verdade. Também o invejavam porque era amado pelo povo, e tinham medo que os romanos, vendo isso, ao perceberem que Jesus também era um “pacificador”, passassem para Ele a concessão de exploração do Templo.

Pilatos não enxergou que Jesus era o Filho de Deus, mas a inveja dos fariseus e saduceus era tamanha que até ele percebeu, conforme o evangelho de João.

Ora, os que já tornaram-se céticos em relação a fé podem dizer: E daí?! Jesus não acabou crucificado por essa gente, e depois, a fé que seus discípulos propagaram não acabou tornando-se o motor do sistema de dominação religioso mais poderoso do mundo?

Aos que assim pensam eu apenas digo: ele também foi crucificado por mim, porque se alguém merecia estar ali, pagando por seus próprios pecados, esse alguém sou eu.

E sobre o uso do seu Nome para justificar as maldades da religião até os dias de hoje, também só posso dizer: é exatamente isso, apenas usam o nome de Jesus, porque se proclamassem e vivessem Suas palavras tudo seria muito diferente...

Ghandi conseguiu a independência da Índia apenas pregando e vivendo uma pequena parte do sermão do monte.

Se alguém der-lhe um tapa na sua face direita, não revide, mas ofereça a outra face...

É... Gandhi mobilizou milhões e milhões para o protesto pacífico. Se os ingleses vinham com cavalos, ele e o povo se deitavam. Se a polícia inglesa vinha com cacetetes, eles levantavam as mãos e fechavam os olhos... Logo esses embates correram o mundo, e o próprio povo inglês se reconheceu como os bárbaros da história e pressionaram o governo a sair daquele país. Os industriais ingleses ainda sim não queriam abandonar aquele filão farto, então Gandhi conclamou o povo a fazer um longa "greve de compra" dos tecidos, do sal e do que mais os ingleses vendessem lá...
 
Em seu Cristo eu creio, apenas não creio no seu cristianismo, disse Ghandi aos ingleses que não queriam dar-lhes a independência.

E você, que enxerga o quão frustrante é o sistema, vai tornar-se um cínico? Mais um que não pode lutar contra a maré?

No que você afinal crê? Apenas na maldade do homem, corruptível pelo dinheiro e poder?

Pois eu oro que você faça a escolha certa, que escolha crer em Cristo, e crer em tudo o que disse e viveu!

Pois existem muitos indianozinhos existenciais esperando pelo seu pequeno Ghandi. Ele creu em Jesus, por mais estranho que isso possa parecer, porque a verdadeira fé é aquela que te leva a prática.

Porque Ele, sim, Ele crê em nós, apesar de nós.

Leo
Italva

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