quarta-feira, 10 de agosto de 2011

João Ninguém, João de Deus

João Batista, após ser preso, tem uma espécie de crise com relação a Jesus. Ele havia batizado o Senhor, e visto o Espírito descer sobre Ele na forma de uma pomba, e ouvido a voz do Céu que apontava Jesus como o Messias. Havia direcionado Pedro e João (filho de Zebedeu, o futuro apostolo) a seguirem a Jesus por ser Ele o Cristo e testemunhado Dele desde então.

Depois de preso, ele envia dois de seus discípulos a Jesus para perguntar se Ele realmente era o Cristo.

Interessante a reação de Jesus: não condena João na sua incredulidade, muito pelo contrário, o exalta perante todos.

Ora, por quê?

Por causa de quem era João? Sim.


Criado entre os Essênios, viveu totalmente a parte da sociedade da época, se alimentando de tâmaras e das nuvens de gafanhotos que caíam no deserto. Fazendo suas roupas a partir das peles dos camelos encontrados mortos. Lá ele aprendeu as escrituras, aprendeu acerca do messias, e aprendeu a se “batizar” todos os dias, segundo o costume de purificação ensinado pelos Essênios.

Os Essênios criam que todos estavam errados, e que seu comportamento era a única maneira de viabilizar a vinda do messias, se fechando para tudo e para todos.

João não cria assim. Ele concordava acerca da falência do sistema, e se abstinha de tudo o que a sociedade proporcionava, mas não se continha em guardar a verdade para si mesmo.

E a pregação dele não era em cima de suas regras monásticas. 

Ele cria em um messias muito além da liderança militar aguardada pelos fariseus.

Ele era a voz que clamava no deserto, profetizada por Isaías. Que preparou o coração do povo e ajuntou alguns daqueles que seriam os primeiros discípulos de Jesus.

Jesus diz ainda que ninguém foi como João... Nem Moisés, nem Abrão, nem Elias.

Ora, se Jesus não falasse isso, ninguém em sã consciência apontaria João como alguém tão especial para Deus...

No evangelho é assim: as boas novas, quando encontram terra boa, crescem dentro de nós... Sem ninguém ver...

 E quantos Joões-Ninguém talvez já não passaram em nossas vidas sem que soubéssemos? quantos Joões de Deus não foram martirizados para que a Palavra chegasse a nós?

De novo eu pergunto, foi por causa disso que Jesus teve uma reação tão graciosa em relação a João?

Sim, e também por muito mais que isso. Porque Ele nos entende. Porque ele sabe que até uma alma elevada como João está sujeita à influência deste mundo, as agruras dessa existência!

Mas Ele é o perdão de Deus encarnado na Terra!



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Também é interessante que Mateus menciona logo em seguida, como fazendo parte do mesmo discurso, os juízos de Jesus sobre as cidades da Galiléia que viram e reviram os milagres de Jesus, sem emular neles nem uma gota de fé ou arrependimento em relação ao que Jesus pregava.

Sim, são espécies diferentes de incredulidade, a de João e a do povo da Galiléia.
Porque a incredulidade momentânea de João nunca lhe deixou sem fé.

Porque ele era guiado pelo amor, pela verdade.

Jesus menciona que os ninivitas iriam se levantar e julgar aquela geração, porque ouvindo muito menos da parte de um profeta destituído de amor, Jonas, se arrependeram de si mesmos e se abriram para a Vida.

Acho que os ninivitas vão ter muito trabalho... Não falta gente que carregue o nome de Deus na camisa, na casca, na superfície, sem ter nenhuma preocupação em ajudar quem está a sua volta.

Porque foi essa a resposta de Jesus a João. Ele faz diversos milagres para os discípulos enviados da parte de João, e pede que passem a João a seguinte mensagem:

Os cegos enxergam, os coxos andam, os leprosos são limpos, os mortos são ressucitados e...

Para espanto meu, Jesus deixa algo para o final, como se fosse uma espécie de milagre superior:

E aos pobres são pregadas as Boas Novas do Reino de Deus.

E que os necessitados, e os que ninguém quer, que aqueles que não podem retribuir, que eles tenham nas nossas vidas a sua devida importância.

E bem-aventurados aqueles que não se escandalizarem em mim.

Porque isso é Evangelho!

Praça XI, Rio de Janeiro.
Leo.

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