sábado, 20 de abril de 2013

Carta aos Efésios III - O mundo, a carne, o pecado. E para além delas: a Graça

Anfiteatro de Éfeso, com capacidade para 25 mil pessoas. Provavelmente neste local Paulo foi arrastado para dar explicações e acalmar a multidão que durante horas gritava "grande é diana dos efésios".

Leitura: Efésios 2:1-10

No capítulo 2 da carta aos Efésios Paulo introduz dois termos que sempre causam muita confusão em que lê a Bíblia: mundo e carne. 


O mundo a que se refere Paulo não é o planeta Terra. O mundo é o sistema mundial de controle e sobrevivência, o complexo conjunto de normas, regras, tecidos sociais de poder, riquezas e manipulação, que preenchem o inconsciente coletivo da humanidade e o super-ego de cada um. Na prática, o  mundo se representa pelos governos instituídos e pela política de forma geral, além de todos sistema em escala fractal de poder (escola, condomínio, família, etc). Também se representa pela desejo de riquezas e todo esse status associado a quem a alcança. Além disso, o mundo também está na conquista das mentes e corações: toda ideologia e religião que preguem uma esperança em algo que substitua a simples fé em Deus.

De certa forma o mundo é materializado em toda e qualquer ilusão de esperança que substitua a Deus no coração do ser.

O dinheiro e a riqueza tem esta capacidade. Ou eles não são a esperança de vida de quase todo rico? Aliás, é por isso que algumas pessoas endinheiradas cometem suicídio quando perdem tudo. Perderam a esperança, perderam a razão de viver.

Um bom emprego, do tipo "servidor público bem remunerado", de certa forma não pode se tornar  o Deus-esperança de uma pessoa?

Aqui faço uma pausa para redimir qualquer dúvida: ter dinheiro ou um bom emprego não faz da pessoa uma mundana, mas sim a esperança que ela coloca nisto a faz mundana. E notem, ela ão precisa ter nada disso para respirar o mundo, ela precisa amar desejosa e esperançosamente estas coisas.

Isso vale para marido idolatrado, para pastor idolatrado? Olha, neste aspecto, até a família, até a reputação são mundo, quando tem esse olhar interior de esperança maior no Ser.

A zelo excessivo pela reputação, o desejo de status em todos seus contornos, a imagem oferecida por uma pessoa, que propositalmente difere do que ela é e pensa, são e sempre foram elementos do sistema mundial

E claro, tudo isso vale para todas as formas de poder (político, financeiro, religioso e ideológico) quando eles assumem no coração do ser a esperança maior da existência, a esperança maior da felicidade, a esperança maior de poder realizar o que se considera vida, no caso dos melhores de nós; ou ainda  a esperança de ser percebido, de ser valorizado de ser visto como importante. Muita gente que prova o poder se torna má porque, além do que foi exposto acima, acabam gostando do controle, da manipulação possível e a usam para o seu bel-prazer.

Deste mundo Jesus diz que jaz no maligno. 

E são com estes elementos que o Diabo tentou-o no deserto. 

Se tu és... Joga-te daqui do pináculo do Templo... Deus não te deixará morrer... Os grandes religiosos do Templo de Jerusalém te verão pairando sobre as nuvens, te aclamarão como Cristo... Terás todo sistema a teu favor...

Se apenas ajoelhares e me adorares, todos os reinos serão seus... Te faço imperador romano... Você conquistaria até a China e a Índia com tanto poder... Imagine, poder para exterminar todas as injustiças... Poder para resolver todas as calamidades... Poder para ser de fato Deus na Terra...

Desse diabo, Jesus diz: Aí vem o príncipe deste mundo, ele nada tem em mim.

Também diz: ele é o pai da mentira, porque mente desde o principio.

E diz ainda: O inimigo vem para matar, roubar e destruir.

Mas ainda bem que Ele, Jesus, veio para que tenhamos vida, e vida em abundância!

Parece que o Diabo e o mundo se emulsionam, se misturam, onde o diabo controla e manipula este sistema,  ao mesmo tempo que ele aprende e aperfeiçoa a maldade que brota das nossas escolhas e desejos.

Como diz o Caio, a serpente se alimenta do pó que levantamos da terra.

É por isso que o mundo é tão sofrido, tão injusto, tão insuportável para qualquer um que ouse levantar os olhos para além da matrix

Paulo nos ensina que a nossa conversão [ quando somos alcançados pela Graça, pelo reconhecimento interior, profundo, de que Jesus é Deus, é nossa esperança, é nossa salvação ] é um rompimento radical com o mundo (sistema mundial). 

João, com outra linguagem, diz a mesma coisa.

De fato, cada um que já provou o Evangelho sabe da virada de direção que nossas vidas tomam em relação aos valores que adquirimos ao longo de nossas vidas, ao esquemas de poder, ao valor dos bens e riquezas, ao status e às ideologias como esperanças maiores de vida.

Se é que de fato algum dia nos convertemos a Jesus...

Sim, infelizmente, muita gente se converte à "igreja", e sai do "mundo"; não passando na verdade de uma mudança de valores pueris e clubescos, como parar de beber, de fumar, de cheirar, de falar determinados palavrões, de transar... Pelo menos abertamente. Claro que essas disciplinas corporais tem seu valor, especialmente se a pessoa vive de maneira tresloucada, mais o evangelho é infinitamente maior que isso. 

Mas, voltando a falar de conversão, ninguém para de pecar por não mais seguir o mundo. Isto muito me intrigava. Na verdade eu achava que isso só acontecia com gente que não havia experimentado uma conversão genuína. Eu pecava determinados pecados que eu havia inconscientemente elegido como imperdoáveis , logo, não havia me convertido, logo, a cada arrependimento que sentia era aquele o genuíno e os outros somente catarses, e ali eu começava de novo a ser o super-homem do evangelho  até pecar os pecados imperdoáveis num circulo vicioso que a cada ciclo ia me arrefecendo, arrefecendo... E de fato, aquela fé vacilante se tornou uma espécie de fé negativa, onde a minha certeza era a de ir para o inferno por ter desapontado a Deus depois de tantas chances...

Até que fui sequestrado do inferno pela Graça!

Não me peçam para explicar isto. Só sei que Ele, cheio de misericórdia por mim, babando de um amor inimaginável, do qual não faço ideia do porque, até porque não há merecimento meu nenhum nisto, (eu sei! Eu me conheço). Só sei que Ele me encheu de vida, me encheu de Jesus, estando eu morto e moribundo, jazendo na Terra de olhos abertos, e me ressuscitou com Cristo, me levando para essa qualidade celestial de vida.

Só sei que eu e você pela Graça somos salvos! E isso não vem de ninguém. É um presente de Deus!

A partir daí a vida ficou mais clara. O próprio significado de mundo e carne começaram a se esclarecer em minha consciência.

Se o mundo é desenraizado de forma radical quando experimentamos Jesus, a carne e suas pulsões são enfraquecidas numa luta diária, de anos, décadas a fio. Um combate aos nossos instintos pulsionais, passionais, egoístas.

Guardo comigo uma comparação usada por Russell Shedd muitos anos atrás. As crianças, com as quais devemos nos tornar parecidos se quisermos entrar no Reino de Deus, não carregam nada do mundo. Não são ligadas a status, desejos de riquezas, poder, etc. Mas carregam nelas vários dos defeitos (pecados) que vemos em nós, evoluídos. A criança mente quando está acuada. Elas são egoístas, ciumentas, cruéis. Algumas mais que outras, mas todas são. Parte do nosso processo de educação consiste em condicionarmo-nos a quebrar estes padrões ou, se não for possível, esconder estes defeitos, às vezes até de nós mesmos...

Ora, sendo assim, fica mais fácil entender o processo de santificação, diário, onde, já não orientado pelo mundo, mas agora guiado pelo Espírito, eu vou, step by step, passo a passo, quebrando o velho e adoecido padrão do Ser, onde a culpa já não está aninhada para emular o pecado que não quero praticar. Muito embora aconteça, não vou negar (estou longe da perfeição!), mas a força a ser empregada por mim é infinitamente menor que no processo anterior, porque basta que eu queira mudar, modificar, quebrar este padrão mental-vicioso, e aos poucos, esse processo vai perdendo a força, as pulsões vão se extinguindo, e o que eu fazia todo dia, agora eu faço algumas vezes no mês, e depois menos até acabar. E isso prossegue para cada hábito velho, para cada hábito novo que venha a aflorar... Isso prossegue, na verdade, até a perfeição em Jesus, quando nos encontraremos com Ele.

Mas é preciso ter fé, de verdade, para acreditar neste perdão absoluto de Deus, completo, fogoso, imparcial, apesar de nós e de nossos pecados.

Fé madura, cheia de certeza, porque do contrário, não vai, não acontece.

Mas até nisto, vemos a Graça dEle sobre nós.

20/04/2013
Casa Rosa - Italva
Leonardo Cordeiro










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