domingo, 4 de novembro de 2012

Quando o coração escolhe o mal.

Conheci um certo Fernando, cerca de 40 anos de idade, no início do ano, que se ofereceu a gramar meu quintal. Não gostei do sorriso dele, sem saber discernir o que era, mas até que daria o serviço para ele, porque no mais ele era totalmente comum. 

Há cerca de um mês atrás aconteceu um crime bárbaro em minha cidade natal.

Uma garota já desaparecida a mais de 20 dias foi achada na casa de praia de um homem. Ele cortou a garganta quando soube que a polícia iria cavar seu terreno em busca dela.
 
Ela foi esganada e enterrada debaixo de um cômodo em construção. A perícia mostrou que ela estava viva quando foi enterrada.
 
O assassino é o próprio homem, dono da casa. É o Fernando.

Há uns anos li o livro do psiquiatra Scott Peck, O Povo da Mentira, sobre pessoas que no decorrer da caminhada da vida se tornaram intrinsecamente más.

Um rapaz é preso por estar atirando na rua, e Scott descobre que o problema todo da revolta alucinada do menino é a arma, presente dos pais. A mesma arma havia sido dada ao irmão, um ano antes. O irmão a usara para se matar. Scott tenta conversar com os pais, entender o que aconteceu e ajudar o menino. Os pais só estavam preocupados em se defender, se esconder, tirar a culpa de si próprios, manter as aparências.  Ele conseguiu uma casa para o menino com um parente distante. Os pais permitiram, desde que a queixa registrada contra eles fosse retirada, desde que ele não contasse isso a ninguém.

Um homem chega ao hospital, trazido pela esposa, com os pulsos cortados. Era uma de suas muitas tentativas de suicídio. Scott estuda o caso, tentando ajudar o casal. O rapaz é inteligente, chegou a estudar em Havard, porém não tem força de vontade, não trabalha, não estuda, sem coragem para a vida, totalmente preguiçoso. Ele odeia a esposa, que o domina, mas ele não tem coragem, claro, de terminar a relação porque isso exigiria dele atitude, e porque ela o sustenta. A esposa também o odeia, porque ele é um inútil, imprestável e preguiçoso e por causa disso ela tem de trabalhar pelos dois e ainda ajeitar a casa. Porém ela não permite que ele faça nada, alimentado sua preguiça, inibindo-o com reclamações e afirmações negativas, e enchendo-o de calmantes. Ela não o abandona porque ela precisa de um capacho para ser pisado. De tempos em tempos, ele não suportava a vida e “tentava” se matar. Acabou, tempos mais tarde, conseguindo.

Um homem está tendo problemas de transtorno obsessivo-compulsivo. Ele começou com pequenas cismas, como voltar um quarteirão para passar em certa rua, conseguindo uma sorte ou evitando certo azar. Isso foi crescendo a ponto de afetar seu trabalho de vendedor. Já estava percorrendo mais de 100 km para passar em certa ponte ou caminho, para evitar azares proporcionalmente grandes, como acidentes com o filho ou com a esposa. Na análise, o psiquiatra percebeu nele dois problemas: uma necessidade exagerada de manter uma camuflagem de perfeição, e um pouco ligado a isto, uma dificuldade em dizer o que pensava, de discordar, de dizer não, fosse com a esposa, fosse com o chefe, fosse com os amigos. Certo dia, ele chega no consultório e diz que seu problema acabara, que ele havia feito um pacto com o diabo e desde então tudo se resolvera.

- Qual foi o pacto? Perguntou Scott.

- Eu disse a ele que tirasse minha compulsão, e que poderia tirar minha vida se eu cedesse. O diabo não existe, foi apenas um truque para enganar minha mente... Você acha que o diabo existe?

- Eu acho que não, mas no seu caso, acho que você acabou de chama-lo a existência. Renegue este pacto e vamos continuar com o tratamento normal, com terapia, anti-depressivos e tempo.

 O homem sumiu da terapia e duas semanas depois ligou de madrugada:

- Doutor, estou com medo. Estou com medo de matar meu filho...

- O pacto que você fez envolvia a morte de seu filho, e não a sua, certo?

- Sim, envolvia o que eu tinha de mais precioso...

Bom, o homem abandonou a ideia do pacto, voltou ao tratamento normal, e ao longo dos meses foi recuperando a sanidade.

Ele flertou com o mal, e chegou muito perto de atravessar a linha da maldade, mas graças a Deus ele escolheu o bem.

Cada um dos outros casos citados refletem "qualidades" que fazem com que as pessoas escolham o mal.

Egoísmo, Narcisismo, Preguiça, Sentimento de injustiça do mundo contra si, basicamente estes são os motivos-maldades que fazem de alguém uma pessoa má.

Mas a escolha pelo mal, a escolha de tornar-se um diabo humano, envolve, para além disso, uma profunda decisão do coração pelo mal.

Esta decisão é tomada no momento em que a pessoa recebe uma iluminação, uma chance de arrependimento, quando ela tem seus olhos abertos para enxergar sua maldade, mas ao invés de arrependimento, o que ela decide produzir é a mentira.

Uma mentira para disfarçar o que ela faz e quem ela é.

O homem que desistiu de seu pacto, e que fatalmente o levaria a matar seu filho, desistiu fundamentalmente porque nele prevaleceu o amor pelo filho em detrimento do que ele jugava saúde para sua mente. Venceu a verdade de que ele era doente contra a mentira dele como pessoa de sucesso.

Pelo pouco que investiguei da história do Fernando e da Adriana, eles eram amantes, casados. Se conheceram na prefeitura de Italva, onde trabalhavam.

Com o romance, ela estava se separando do seu marido, e sua mudança, de Cardoso Moreira para Italva, seria no dia seguinte ao do assassinato.

Dele, o que dizem na cidade é que era trabalhador e ganancioso, e que fazia tudo por dinheiro. Dizem que não era bom pai, e que sua mulher, depois da sua prisão, contara que não tinha coragem de deixa-lo por medo de morrer.

Adriana havia recebido, no dia da sua morte, o valor pela venda de um terreno, e provavelmente o dinheiro foi parte do que aconteceu naquela casa.

Fato é que se ele, depois de esgana-la, houvesse desistido da farça, da mentira, do escape, ela não teria morrido, já que estava apenas desmaiada...

Não estou aqui para dizer se o rapaz vai para o inferno, se tem perdão para ele, etc.

Jesus nos ensina com a parábola do joio e do trigo que algumas sementes são ruins, plantadas pelo inimigo mesmo. Porém nem os anjos, com toda percepção sensorial deles, são capazes de discernir isto nas pessoas, quanto mais nós teríamos este poder.

Só sei que o amor dEle é infinito, e sua Graça sem limites.

E que meu coração não escolha o mal.

E que eu, com meus defeitos, não faça a escolha pela mentira, para parecer que sou o que não sou.

Satanás é pai de uma só coisa, da mentira.

A luz é como um divisor de águas... Uma vez iluminado, você tem duas escolhas: permanecer na luz, deixar que seus defeitos apareçam, e arrependido ir mudando; ou fugir da luz, camuflar-se, fingir a vida, e afundar nas suas mentiras.

Que a luz nos ilumine, e que nós façamos a escolha certa.

Leo

4/11/12

Casa Rosa - Italva

2 comentários:

  1. Nossa! Muito bom! É incrível como Deus é maravilhoso e como sua graça e misericórdia não tem fim. Esse é apenas um dos vários crimes absurdos que acontecem a cada segundo, e mesmo assim o Senhor nos guarda e nos faz continuar. Que Deus te abençoe, sempre.

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