segunda-feira, 16 de maio de 2011

Mergulhando de cabeça na Graça

Nós vemos por aí, e ainda, lemos na história dos últimos milhares de anos, muita gente com as velhas relações de barganha com Deus. São os sacrifícios de animais feitos pelos judeus (que o próprio Davi contesta em um de seus salmos: de sacrifícios de bois e cordeiros não se agrada, mas de um coração contrito...), são os sacrifícios bizarros dos cananeus, dos fenícios, dos egípcios, (sempre com medo de Deus, que os punisse com seca ou terremotos ou pragas diversas), estes chegaram a sacrificar bebês ou dezenas de meninas ou de jovens. Temos ainda os votos, as promessas católicas... Uma expressão dos dias atuais é a doutrina da prosperidade e suas nuances.

O Cristão que está neste nível ainda vive como um pagão. Não estou dizendo que vai para o inferno, estou dizendo que sua consciência é pagã, é a consciência do Deus da barganha.

Como se pudéssemos dar algo para Deus...
como se Ele precisasse de algo de nós.

Em geral, quando saímos deste primeiro lugar comum, caímos na seguinte questão: Vou agradar a Deus. Ele é meu pai e eu sou seu filho. Vou dar o melhor de mim, seguindo as regras da minha religião, para ser aceito por Ele. Vou servi-lo com todas as minhas forças (onde servi-lo significa seguir de maneira até irracional a Lei, o regulamento da religião).

Isso dura em algumas pessoas, meses, em outros, anos ou décadas, tem gente que morre assim. Digo isso da ilusão de achar que é possível agradar a Deus com uma vida reta, perfeita (de acordo com o padrão moral da sua época). Ninguém consegue ser perfeito, até porque à medida que a pessoa cresce em consciência, cresce sua percepção de quão falha é e de como fazemos pouco, sempre, por um mundo melhor.
Além disso, ninguém escapa da culpa de não conseguir agir para com os outros da maneira que gostaria que agissem para consigo.

Não estou inventando desculpas para uma vida dissoluta, estou falando de graça, não de graxa (parafraseando Caio Fábio).

Eu vivi isso por um pouco mais de uma década. Vivi um inferno na terra. Achava que com a consciência que havia recebido de Deus, seria inconcebível eu agir ou pensar ou sentir algo contrário à vontade de Deus. E uma verdadeira neurose se instalou em mim.

Só desarmei essa bomba quando alcancei (ou fui alcançado) a consciência da Graça de Deus em mim, com o perdão imerecido de Jesus, com essa certeza de amor que excede o dia ruim, que sobrepuja o dia em que meus sentimentos não são os melhores. Ele me perdoou, apesar de mim, Ele me perdoou apesar de eu ser quem eu sou.

Paulo não se dizia o maior dos pecadores só porque entregou muitos santos para a morte. Ele se dizia o maior dos pecadores por causa da luz que ele recebera e com o que ele fazia a partir daquela iluminação, que mostrava o quanto ele era imperfeito... Paulo!

Então não classifique as pessoas simplesmente pelo seu agir.

Olhamos frutos para discernir árvores apenas quando alguém se levanta para dizer como caminharmos, seja em relação ao evangelho, seja de que assunto for.

No que tange a julgamentos comportamentais: creia, não sei se seríamos muito melhores que os traficantes da rocinha, se crescêssemos lá, com as amizades, a criação e o amor que cada um recebeu.

Não sei se seríamos melhores que muita gente que nasce, de fato, com uma carga genética que os predispõe a ser hiperativos na infância e, no caso de uma criação conturbada, sendo gente complicada na vida adulta. Isso vale para tudo ligado ao instinto, do sexo a preguiça.

É por isso que Jesus diz que com a medida que a medimos seremos medidos. Os julgamentos são muito particulares...

Paulo diz que não se julgava. Ele diz mais. Foi justificado, não dizia que era um justo, mais um justificado.

Não alguém que merecesse, mas alguém agraciado...

E desse amor, dessa gratidão, provém a vida.

E se a Graça dança, eu também quero dançar.

Não gosto de ser repetitivo, mas não há muito mais o que dizer do evangelho.

E o melhor, nisto repousa a mais profunda paz, a mais generosa brisa dessa energia que borbulha na alma, me quebrando todo dia, me matando todo dia, para, paradoxalmente, me ressucitar todo dia, novo homem, em que busco parecer-me mais com Jesus, numa caminhada que espero em fé que dê Nele.

Um mergulho de cabeça nessa fonte, que não é a da juventude imortal, mas da Eternidade.

Leo
Macaé

Um comentário:

  1. É isso aí Léo, tem muita gente por aí com bomba armada na cabeça. Algumas pessoas descobrem que Jesus é maior, mais forte que os demônios e "aceitam" Ele, só que querem se relacionar com ELE da mesma maneira que se relacionavam com os demônios,ídolos, através de sacrifícios, penitencias, barganhas, ofertas, etc...
    O nosso sacrifício é de louvor, gratidão, a lei diz: faça.
    A Graça responde: TÁ FEITO.

    Forte abraço.

    Cesar

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