domingo, 26 de junho de 2011

Um vôo de Mirage sobre os primeiros trezentos anos da história da Igreja

No início era a igreja de Jerusalém. Depois as cercanias: Samaria, Cesaréia, Antioquia, Damasco... Depois Pedro descobre que o Evangelho não é só para os Judeus.

Aí aparece Paulo. Ele leva a Palavra do Espírito de Jesus para Ásia menor, para as antigas colônias Jônicas, berço dos melhores pensadores gregos. Éfeso, Pérgamo, Esmirna e toda região da Frígia e Pan-Fília, e segue em direção a Grécia e Macedônia.

Sua mensagem era arrasadora, Deus se reconciliara com o mundo através de Jesus, que com o sacrifício da cruz pagara o preço que todos nós temos com a existência, sem que para isso fosse necessário qualquer barbanha com Ele, e milagrosamente os que entendiam isso começavam a se parecer com Jesus no perdoar, no amor prático, no olhar generoso perante a vida e a todos.

Os grupos formados não tem hierarquia militar como os de hoje. É tudo muito simples, não rola dinheiro. A ênfase é na ajuda humanitária, aos pobres, velhos e viúvas num mundo sem INSS e sem trabalho para mulher.

Os problemas existem. Judeus que entenderam pela metade o evangelho querendo fazer o povo seguir a Torá. Os Gnosticos e suas religiões de mistério e sectarismo se misturando às igrejas. O próprio povo carregando sua cultura de misticismo em meio ao aprendizado do evangelho.

Os apóstolos vão morrendo, primeiro na década de 60, com uma grande perseguição geral em todo o Império Romano, por um Nero já enlouquecido de tanto poder e suruba. Pedro é crucificado, de cabeça para baixo, e Paulo, pela cidadania Romana, tem a mercê de ser decapitado.

Com a destruição de Jerusalém (70DC), judeus cristãos são espalhados como escravos em todo Império. A palavra chega aos gregos de Edessa (atual Geórgia), Marcos a leva a Alexandria. Muita coisa acontece sem registro hitórico para nós.


A biblioteca de Celsius e a Ágora de Éfeso, atual Turquia



João se vai no final da década de 90, depois de ter sobrevivdo a segunda perseguição geral do Império, nos dias de Domiciniano. É um tempo difícil. Em Pérgamo, Antipas é derretido em um touro de bronze com óleo fervente, aos risos de uma multidão que se divertia com os gritos de dor canalizados como trombeta para a boca do caldeirão. É em Éfeso, por esses tempos, que João escreve o evangelho de João, suas cartas e o apocalipse. Seus escritos, bem como os de Paulo e os demais evangelhos são guardados como jóias preciosas e lidos nas reuniões dos discípulos, irradiados por todo Império Romano.

Nem todos ouviam a João, como nem todos ouviram a Paulo, e alguns grupos, ao longo da caminhada, ficam tão distantes do evangelho que acabaram se dissolvendo na média de sua época e perdendo a identidade do evangelho.

Os discípulos  conservam a hierarquia mínima necessária, aproveitando sua cultura de assembléias (as eclesias dos gregos, ou igrejas, ou assembléias, que antes de Roma chegaram a exercer o governo de suas cidades-estado, e depois da dominação romana pussuiam funções limitadas ou apenas religiosas) e o formato funcional do período apostólico, com um corpo de anciões (presbíteros) e "encarregados" (bispos) para orientar e dirigir cada grupo, que se reuniam, em geral, nas casas.

Ao longo do segundo século, e com o distanciamento das últimas testemunhas vivas de Jesus e dos apóstolos, as várias igrejas desenvolvem o hábito de se reunirem de tempos em tempos, dentro das Províncias Romanas que residem. Aos poucos, geração após geração, os bispos ganham importância em detrimento dos presbíteros, em meio a preseguições locais e a uma terceira grande perseguição, patrocinada por Marco Aurélio. Essa hierarquização evolui no terceiro século, ao ponto dos presbíteros não mais participarem dessas assembléias de província chamadas "canons". Começam a surgir os líderes de líderes, os bispos gerais de cada Província Romana,e a mensagem de Jesus, de que entre nós esse desejo de poder não deve existir, vai sendo deixada de lado, tudo bem devagar.

Também há muita mistura com a filosofia grega, a simplicidade do evangelho vai se perdendo dentro de uma necessidade de se definir tudo o que Jesus não achou importante definir, e ao invés de olharem para o Logus grego como uma sombra da revelação que estava por vir (Jesus), invertem o movimento enquadrando Jesus dentro da figura desse Logus

Comcomitante a isto, templos vão sendo construídos, a muitas igrejas vão deixando o evangelho genuíno, se encalacrando em  "igrejas" despóticas que impõe regras de perdão no mínimo cruéis (para não dizer diabólicas), como anos de humilhação na porta do templo até a nova aceitação no grupo. Alguns casos a resposta ao pecador era a excomunhão perpétua, que mandava o indivíduo direto para o inferno, pelo menos na imaginação deles... Tudo em nome de uma ortodoxia, de uma seriedade, de um devoção doente que nada mais é que um sintoma de quem se vê muito acima dos outros.

Jesus continua a dizer, desde sempre, que entre nós não seja assim....

E que o perdão deve ser dado sempre, a todo tempo, independente do que foi feito...

Lembrem-se, não há uma voz única, as igrejas são bem distintas, de grupos despóticos como o descrito acima até gente do evangelho genuíno, e o Império Romano está uma grande bagunça, vivendo uma terrível crise. Além disso, como não há dinheiro nem nas igrejas nem entre os milhares e milhares de convertidos (a maioria escravos nas províncias do Oriente), e o dinheiro que conseguem reunir é todo usado para ajudar os pobres, e também porque o movimento do evangelho passa longe do poder político, acaba que as sementes de manipulação e poder não conseguem florescer, nem se reproduzir... Esse tipo de coisa não vai para frente quando se tem um Dioclesiano pela frente (e grande perseguição do Império Romano no final do terceiro século).

Até que surge Constantino...

Sobre seu período já escrevi algo:

A sede de poder da religião 

Mas enfim, com ele, o evangelho se transforma em religião oficial, institucional, sujeita aos caprichos e desmandos de quem é capaz de matar a própria esposa e o próprio sobrinho pela manutenção do poder...  É dessa fusão entre os bispos provincianos e o Imperador que surge o cristianismo.

Concílio de Niceia
É nessa época que se começa a falar em Igreja Católica, universal, de pensamento único... E hajam concílios, e hajam banimentos dos hereges... 
Líderes tão loucos por uma ortodoxia de "sexo dos anjos" que para tal homogenização de pensamento se tornam diabos usando o estado para expulsar para longe do Império quem pensasse diferente.
Como coar um mosquito e engolir um camelo.... Como usar uma "12" para matar um mosquito no peito de uma pessoa...

Bom, líderes são cooptados com isenção de impostos, com recebimentos de dotes por parte do Império, com salários, com poder para punir os inimigos, com verbas para os concílios universais do Império, etc...

Depois, é o que já conhecemos, a Igreja Oficial do Império racha junto com o próprio, e desde o quinto século temos um Império e uma igreja oficial de lingua latina, e um Império e uma Igreja oficial de língua grega. Quase 1000 anos depois, a igreja romana racha a reboque das reformas pedidas pela Alemanha, e surgem as igrejas protestantes onde o estado foi inteligente o suficiente para usar as reformas para se livrar das garras de Roma. 

Infelizmente, a reforma protestante foi extremamente tímida nas suas reformas. Como Caio Fábio diz, seria necessária não uma reforma, mas sim uma regeneração.

Ao contrário do que parece, eu não gosto nem um pouco desses assuntos, me dá até uma certa angústia pelo fato de saber que gente tão boa, e com as Palavras da Verdade bem embaixo do nariz, se mantiveram séculos, geração após geração, debaixo dessa sistemática manipuladora... 
 Novamente eu afirmo: Cristianismo é uma coisa, o evangelho de Jesus é outra bem distinta!

Minha angústia não vem só disso, mas também por saber que em todas as gerações, a norma é que os que melhor discernem isto, ou são os próprios manipuladores que se aproveitam da situação, ou, infelizmente, são as pessoas de bem que simplesmente se afastam e observam tudo de longe!

A vocês que observam tudo de longe, ou ainda, aos que se percebem manipulados eu tenho uma boa notícia, e de fato, este é o motivo do que escrevo:


Nunca antes na história da humanidade houveram meios tão eficientes e claros para que isso fosse dicernido, e nunca houve tanta liberdade para que diante desse fato, pessoas possam se reunir em torno do nome de Jesus, sem manipuladores, sem líderes, sem gente que tenha de pensar por você, de tomar decisões por você.

Hoje, como nunca, o evangelho pode ser vivido com toda a simplicidade e pureza que o constituem! Aí mesmo, na sua casa.

Cada casa, uma igreja onde a liturgia é o amor, onde o maior é o que lava a louça, onde a ceia é tomada no partir do pão da doação de um pelo outro, o sangue bebido é a certeza de se saber perdoado por Ele, de tal modo que a todos perdoamos, Graça sobre Graça, no trabalho, na escola, dando gosto a esse mundo inssosso, quebrando a regra de valores materias por algo muito mais sublime!

Aos que conhecem os Evangelhos, eu digo apenas: CREIAM!

Sim, é apenas um questão de onde reside sua fé. Se na instituição ou em Jesus...  

Aos que conhecem somente as agruras da religião, eu digo: Leiam o novo testamento, como quem lê um romance, e leiam de novo, e então comparem com o que vocês vêem por aí, e depois o comparem com vocês mesmos, com o seus valores de vida, com suas fobias e com os projetos de vida que lhes ensinaram como sendo o caminho da felicidade.

Pois para além da religião existe um Deus louco de amor por você.

Leo
Italva

Um comentário:

  1. Grande Léo! Grande Texto! Essa síntese dos primeiros séculos da Igreja nos remete ao nosso próprio século, o 21! Como realmente não há nada novo embaixo do sol e repetindo Croce, " toda história é história contemporânea.

    Alegres os que entenderam o Evangelho genuíno e Eterno!!!

    Cesar Garcia

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