segunda-feira, 9 de julho de 2012

Convencidos, convencedores e converseiros

Max von Sydow e Julia Andrews interpretando missioários no ótimo filme Hawaii, de 66



Recebi um email-enforme de um de um missionário em abril, com uma mensagem que me arrepiou, não por alguma maldade da parte dele, mas pelo noção distorcida da Graça de Deus, e por uma visão exagerada do Deus do velho testamento em detrimento de Jesus. Eu só publico agora, algum tempo depois, para preserva-lo de qualquer constrangimento.

Sinceramente, constrangido, me sinto eu, tendo de escrever para gente que se dá pela causa do evangelho.

Acho que a teologia da prosperidade, que prega a impossibilidade de sofrimento para aqueles que creem em Jesus, e a tal batalha espiritual (que sempre inventa uma brecha, um buraco, para justificar porque em alguns - e em tempos de crise, quase todos - o evangelho não se materializa em dinheiro no bolso), acho que essas teologias fizeram e fazem um grande estrago na cabeça de muita gente boa da igreja evangélica brasileira. E a cada dia me convenço que esses muitos são muitos mesmo.

Não sei bem o pôrque disso. Desde que a Verdade me alcançou, as coisas se discerniam em mim, e mesmo quando eu seguia o caminho errado, lá no fundo eu sabia...

Às vezes acho que dos convencidos destas teologias, muitos são convencidos de si mesmos, convencedores do seu convencimento, converseiros de uma auto-ajuda que não ajuda, no máximo atenua, aquilo que só É pela pregação do Evangelho.

Não sei se esses da carta se enquandram nesta categoria, espero que não, maas isso já é assunto entre o Pai e cada um de seus Filhos.


A Carta:
Oi,
 
Fiquei muito preocupado com o teor da Mensagem.

Primeiro porque você só cita Jesus uma vez, e no final, quase por dizer, e baseia todo o raciocínio em Gideão, nos midianitas, e em Jó. A questão não é nem o uso ou não do nome de Jesus, mas o seu parâmetro, a base do seu raciocínio.

Em segundo lugar, você fez uma leitura de Jó completamente absurda. Sim, você acabou de se acrescentar ao grupo dos amigos de Jó que o tempo todo quis arrancar dele uma confissão de culpa que não havia, para que Deus perdoasse a Jó pelo mal que eles imaginavam que Jó havia feito.

Aliás, a "sorte" de Jó mudou quando ele orava por esses amigos. Não vou me alongar nessa questão, só quero dizer algumas poucas coisas que eu espero que leia, não como uma afronta, mas com a certeza de que quem escreve te respeita e espera que você possa se abrir para a verdade que vem de Deus.

A primeira coisa que quero dizer é sobre como ler a Bíblia. E espero que não tenha rido desta frase, porque isso é muito sério.

Tudo, tudo na Palavra tem que passar pelo crivo, pela peneira de Jesus. Ele nos salvou, Ele é o nosso Deus, Ele é o rosto, o encarno do amor de Deus, Ele é o Cordeiro de Deus crucificado antes da fundação do mundo! Então, sendo assim, toda leitura do velho testamento e do que mais quiser usar para falar de Deus tem que ser peneirado por Jesus. Tudo. E eu não inventei isso, não, apenas estou lendo a carta aos Hebreus. O escritor de Hebreus diz que todas essas coisas não passaram de figuras, sombras, imagens tênues, como que Deus, segundo o limite da consciência humana de cada época, estivesse tentando lhes mostrar o que estava preparado: JESUS.

Repito, tudo que você pregar, tem que estar casado com o que Ele pregou, com o que Ele viveu e com a maneira como Jesus tratou e lidou com as pessoas (todas: religiosos arrogantes, pobres, gente de dentro e de fora da "igreja", corruptos, nacionalistas e anti-nacionalistas, prostitutas, mulheres, ricos, políticos, ocupadores romanos que provavelmente tinham seus idolos e sua fé extranha, hipocritas, etc, etc). E logo, mesmo falando (ou melhor, apenas usando como exemplo) de gideão, israel ou jó, a sua mensagem tem que se centrar em Cristo! Na Cruz! No amor de Deus que nos perdoa! Na mudança de vida que é produzida por isso! Na Graça de Deus que nos deu tudo sem merecermos nada!

Segundo, sobre Jó:

Você falou dos problemas que Jó enfrentou por certo motivo (temer pelos filhos que fazem besteira) e que daí adveio a brecha para todos os seus males.

Como Jesus tratou a questão? Sobre Jó, Ele apenas disse para termos a paciência de Jó.

Sobre o sofrimento, e sobre o sofrimento de pessoas que não fizeram algo para merece-lo, Jesus mostra-nos algumas coisas: 

O sofrimento vem para todos. Para bons e maus. 

Sim, existe um tipo de sofrimento que é fruto do que plantamos. Se não trabalho, vou passar fome. Se não escovo os dentes, eles ficam cariados, se trato a todos com desprezo, fico sem amigos. Se minto, fico escravo das mentiras, etc.

Mas existe outro tipo de sofrimento, aquele que vem para o bom. Jesus diz que Deus faz com que a chuva caia sobre bons e maus. E quando há falta de chuva, também é fato, falta para bons e maus, não é? Mesmo sendo Deus de uma bondade que está para além da nossa compreensão!

Isso não vale para falta de emprego, doenças e tudo mais?
Sobre os sofrimentos calamitosos, como os dos galileus que foram assassinados e tiveram seu sangue misturado (por Pilatos) com o sangue dos animais que sacrificavam em seu paganismo, você acha que eles eram mais pecadores que qualquer um de nós? Pois Jesus nos assegura que não! E sobre os judeus que morreram por causa de uma torre que numa extranha conhecidencia caiu sobre eles, em Jerusalém, você acha que eles eram mais pecadores que nós? Jesus diz que não!

E sobre a vida de Jesus? Ele sofreu? Claro. Claro que sim.

E nos prometeu livramento deste tipo de sofrimento? Não.

De um lado Ele disse: a minha paz vos dou, e não vo-la dou como o mundo a dá! (porque essa paz não é baseada em benesses deste mundo mas é muito mais que isso!)

De outro, sempre esteve claro: quem não estiver disposto a carregar a sua cruz não serve para ser seu discípulo. E carregar uma cruz, uma pena de morte cravada na testa, significa estar disposto a sofrer, sofrer, em prol do evangelho, em prol do bem ao proximo!

Até a morte se for o caso.

A paz que Ele promete é a paz que nos livra de todo sofrimento proviniente das culpas. Sempre. E do sofrimento proveniente de uma atitude suicida perante a vida (se mudarmos nosso caminho...). E quando Ele quer, ele nos cura, muda algo de maneira milagrosa, misteriosa, mas essa não é a regra, é? Porque até na Palavra essa é a excessão.

Se fizeram isso ao lenho verde, que dirá ao seco?

E o espinho na carne de Paulo? Esse mensageiro de satanás vinha por causa de brechas que Paulo dava? O próprio Espírito não disse a Paulo que ele deveria se contentar com a GRAÇA!?

A minha graça te basta, pois meu poder se aperfeiçoa nas fraquezas!

Enfim, xxxxxx, não quero escrever mais nada,  apenas peço que você ouça mais a Jesus conforme a Palavra, e pense em tudo que te falei.
Toda hora aparece alguem trazendo algo novo, um certo mover, uma certa prosperidade, um telogia de brechas, sei lá, reduto especial de adoradores...

Só sei que o evangelho é muito chato para quem nao quer vive-lo de verdade, e aí se torna necessário sempre uma novidade...
Aliás, para mim, era muito mais cômodo não escrever esse texto, porque muitos que recebem essas minhas respostas saem de perto de mim. Mas em Jesus e em seu amor eu não posso me conter, e eu creio que Ele me moveu a escrever isso a você.
Tenho um blog com um montão de textos em que detalho essas coisas, se quiser, só pedir.
E Que a Luz de Jesus vos revele para muito além das minhas limitações. 

Leonardo Cordeiro
Macaé
abril de 2012

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