sábado, 12 de março de 2011

Comendo o chouriço da Graça

Publiquei este texto em janeiro, aqui no blog, em uma página lateral, mas não ficou muito claro para alguns que olham o blog. Para os que não viram, bom proveito! 

Parei de comer chouriço aos 16 anos, devido ao texto de Atos 15, onde Paulo recebe uma carta com as ordenanças mínimas a serem cumpridas pelos discípulos mundo a fora.

Não forniquem, guardem-se dos ídolos, da carne sufocada (que vale para qualquer animal que morra de maneira sofrida, agonizante), guardem-se da comida sacrificada aos ídolos e guardem-se do tomar sangue.

Enfim, parei de comer chouriço e molho pardo. Explicando o assunto ao meu irmão, ele logo me chamou a realidade: mas você come fígado, que é mais sangue do que carne! E qual carne não é sangue? Aliás, algumas facções do judaísmo ortodoxo deixam a carne de molho por repetidas vezes até perder todo o sangue...

De fato, qual o sentido de uma prática ritualística como esta, cujo significado expirou com a melhora das condições higiênicas dos tempos de Moisés?

Que Deus é este que mandaria alguém para o inferno por causa de um chouriço?

Como sempre, tudo deve ser analisado à luz de Jesus, pelo que Ele disse, como se comportou nas mais diversas situações e como tratou as pessoas a sua volta.

Se Jesus disse que “nem um til ou i se omitirá da lei até que tudo seja cumprido”, porque então ele frequentemente quebrava o sábado?

Se a lei ordenava apedrejar uma mulher pega em adultério, então porque Jesus a proteje dos detratores?

Ora, porque para Jesus o amor ao próximo é o mandamento. Até a Lei Mosaica é secundária diante do amor. E não estou falando de amor Holliwoddiano, aqui amor é a atitude prática e doadora ante a dificuldade do próximo.

A lei judaica é ruim? Claro que não. Ela possui termos avançadíssimos, mesmo para nossa época, como fazer com que os agricultores deixassem as bordas de suas plantações para os pobres, para os necessitados, para os peregrinos... Havia limitação do trabalho para poupar os escravos... Mas ela, a lei, é ultrapassada,  e apesar de ter sido o melhor para a época, foi a lei possível para o discernimento e a compreensão da vida que podiam suportar. Olho por olho não é uma lei de vingança, é um limite para a maldade de um coração que não sabe perdoar. O mesmo vale para toda o resto.

O escritor de Hebreus explica: a lei não passava de uma figura, de uma sombra, de um símbolo do que estava por vir. As leis higiênicas, as leis ritualísticas, as cerimônias de expiação dos pecados, todas elas perdem seu valor, caducam, diante da cruz.

TETELESTAI! Foi o brado de vitória de Jesus.

Tetelestai! Está consumado.

Tetelestai! Está pago, está cumprido.

Tudo foi cumprido na cruz! E não sobrou nem til nem i para cobrar-nos de algo.

Sabendo disso, fica fácil entender o drama de Paulo, vendo as pessoinhas à quem o evangelho havia alcançado e que começavam a viver os benefícios da Graça de Deus, serem agora enchidas de culpa religiosa com a pregação dos judaizantes, com o “envio para o inferno” daqueles que não circuncidassem-se, que não guardassem os sábados, as festas judaicas, e daqueles que continuassem a comer o bom e velho chouriço...

Só não dá para entender essa onda judaizante sobre a igreja dita evangélica aqui no Brasil.

Levitas? Deus não quer levitas, as cerimônias foram extintas em Jesus! Ele quer gente que o busque em espírito e em verdade! Já não bastam os sacerdotes oficiais (quem lê entenda) ressucitados por Constantino, no século IV? Deus não irrompeu com esse tipo de hierarquia santificadora ao rasgar o véu do Templo? Já não somos todos irmãos, cujo mestre é Jesus?

Ora, não digo isso por anarquia, é natural que os sábios ensinem aos iniciantes, que os fortes guiem os frágeis. Sou discípulo de qualquer um que me ensine algo segundo o evangelho! E como eu ansiei por esses mestres, por esses líderes!

Ah os Líderes... O problema da autoridade subvertida em mecanismo de manipulação... Enfiada guela abaixo do povo, fezendo-os temer as maldições do Monte Geresim se deixarem de dizer “Mééééééé, sim senhooooor” para estes pastores mercenários.

Problemas... A extorsão dessas pessoinhas boas, com desculpas de construção de templos suntosos... Meu Deus! O fetiche por templos não se encerrou de uma vez por todas em Jesus?! E esse ensino equivocado dos dízimos, como se pudéssemos barganhar com Deus, como se o dízimo pudesse abrir as janelas dos céus? Como se elas já não estivessem abertas para nós desde a Cruz?! Somos por acaso Judeus? Habitamos por acaso em uma Israel a ser reconstruída após 70 anos de destruição e cativeiro? Não é esse, pastores, o contexto de Malaquias, de onde vocês tiram suas passagens favoritas para extorquir os fiéis?

Estas rememorações de festas religiosas judaicas... Esses chofares, essas unções, essas tentativas de emular uma adoração, uma sheikná, que não vem para os que se enchem de justiça própria.

Problemas... O problema é essa proibição do divórico que não leva em conta as excessões das que vivem apanhando do marido, ou dos que são traídos, ou mesmo as excessões dos que tem seus lares transformados em infernos particulares. Digo isso com a autoridade de quem sabe que Deus nos chama para a Paz.

Ah! Esses regramentos não tem nada a ver com os mandamentos de Deus...

Os mandamentos de Deus são saúde! Um adultério não é uma facada no coração de Deus, antes é algo que gerará um turbilhão de problemas na vida dos envolvidos. O mesmo vale para a ira, ódio, mentira, arrogância, lascívia e tudo o mais que o evangelho aponte como pecado, como morte!

Afirmo isto com a mesma certeza que digo: a Cruz foi o ato cósmico de perdão para toda a humanidade. Meus pecados, meus erros, inclusive os que ainda farei, estão todos perdoados, de uma vez por todas.

Ora, se não há mais uma lei, um Manual Rex a ser seguido, e se ao mesmo tempo eu sou perdoado de tudo, porque então eu perseveraria em fazer o bem?

Aí reside o mistério da Graça de Deus...

Porque se Ele me perdoou, a ponto de marcar meu âmago, então eu quero perdoar a todos. Se Ele é generoso comigo, então eu serei generoso com todos. Se eu percebo a bondade de Deus na minha vida, e um contentamento profundo toma conta de mim, então não haverá espaço para cobiça ou inveja.

Um único mandamento vou dou: amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei.

Isso te escandaliza? Você não aceita isso? Ora, quem não aceita isso não aceita a cruz! Não aceita beber o sangue do Cordeiro! Não aceita comer o chouriço de Cristo!

Quanto a mim, não tenho para onde ir, a não ser para aquele que tem as palavras da vida.

Leo
No ínício do Blog, em Janeiro de 2011
Faz. Peroba - Italva

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