terça-feira, 1 de março de 2011

A Matemática da Graça

A parábola dos trabalhadores da vinha, em Mateus 20, era um mistério para mim. Um fazendeiro sai para contratar trabalhadores para a vinha, combina a diária com estes, e continua contratando ao longo do dia, dizendo apenas que pagaria o que fosse justo. Por fim, aparece com uma turma quase ao anoitecer. Ele paga aos últimos uma diária completa, provocando revolta especialmente nos que chegaram às 6:00 hs da manhã: "Estes últimos trabalharam apenas 1h, contudo, os igualastes a nós, que suportamos a fadiga e o calor do dia". O dono do negócio é categórico: "Amigo, não te faço injustiça; não conbinaste comigo 1 denário? Toma o que é teu e vai-te daqui. Porventura não me é permitido fazer o que quero do que é meu? Ou vocês tem inveja porque fui bom para estes?"


A resposta do Senhor da vinha é perfeita, mas choca todos os princípios de merecimento que eu entendia como justiça. Afnal de contas, não há uma injustiça nisso tudo? Como pode alguém que não fez nada receber o mesmo dos que cumprem seu dever?

Levando isso para as questões de salvação, céu e inferno, não é injusto que alguém que fez tudo certinho seja enquadrado no mesmo patamar de alguém que foi mal a vida toda, mas se arrependeu no final?

O interessante é que esse padrão de parábolas se repete o tempo todo nos evangelhos. Certa feita, Jesus, rodeado de gente mal quista na sociedade, ao perceber o murmurinho dos religiosos (por conta disso) lança uma série de parábolas, que são espelhos da parábola dos trabalhadores da vinha (leia o capítulo 15 de Lucas, que deixei no final desse texto)

Um pastor abandona 99 ovelhas a sorte do tempo e dos lobos por causa du uma ovelha fujona. Não é uma injustiça para com as 99?

Uma mulher encontra uma dracma perdida (uma moeda corrente na época) e de tão feliz chama as amigas para comemorar... Ela provavelmente gastou as outras 9 que tinha para preparar o banquete. Não é uma incoerência, um péssimo negócio?

Um filho pede sua parte na herança para esbanjá-la de maneira irresponsável e depois de falir é recebido de braços abertos pelo pai. Não há uma injustiça com o filho mais velho, trabalhador e cumpridor dos seus deveres?

Se você se considera um cumpridor de seus deveres... Um exemplo... Se você então for daqueles que lançam um olhar inquisidor ante os que tropeçam, ante aqueles que não são tão bons quanto você... Então a resposta é sim: há uma injustiça na mensagem de Jesus.

E o problema é que você está cheio de justiça própria e ainda não conheceu a Graça de Deus.

Mas se você for alcançado pela Graça de Deus (por Jesus!), então tudo nessas parábolas, tudo nessa sua vida começa a fazer sentido.

Porque aquele que sabe que foi perdoado, perdoa a todos, o tempo todo. E é generoso com todos, e se espelha em Jesus para tudo, sabendo que tudo que tem recebido não lhe veio por merecimento...

Isso pode parecer trivial e repetitivo para os que vão a "igreja" todos domingos, mas a mensagem do evangelho pode ser resumida no parágrafo anterior. E é por isso também que quem não consegue perdoar, amar (de forma prática, não romântica), ser generoso e ajudador, precisa preencher a reunião em torno do nome de Jesus com tantas besteirinhas, musiquinhas, jograis, as ditas linguas extranhas e profecias, além das pregações de auto-ajuda, feitas de preferência em cima do púpito para carregar de sacralidade a mensagem.

Tudo que gira em torno do evangelho é muito chato para aqueles que não colocam em prática o evangelho, que não foram alcançados pela Graça de Deus.


A boa notícia, para os que ainda estão lendo esse texto, é que a Graça de Deus está aí. Para todos, todos mesmo, dos mendigos aos ricos, dos viciados em sexo até as santarronas, dos encarcerados aos religiosos. Basta que você acredite que Ele te ama a ponto de morrer por você, que ele te perdoa porque você é muito mais importante que o que você fez ou faz de errado. Ele te ama de maneira incondicional, irrestrita, e não tem mais volta.

Então o evangelho se descurtinará para você... E perceberás que não és o trabalhador que chegou as 6 horas da manhã. Você é o vagabundo da última hora, a ovelha perdida, o filho pródigo, o alvo maior do amor de Deus!

E já não existem comparações a se fazer, já não existe a preocupação em ser o primeiro da fila, não! Este tipo de recalque se vai junto com a culpa que persegue todos que tem aquele tipo de olhar que exige dos que estão a sua volta. O trabalhador que chegou por últmo não cobra nada de ninguém, apenas faz o que pode sabendo que não merece o que está ali, sabendo que receberá algo, mesmo não lhe sendo nada prometido, porque sabe que o Senhor da vinha é bom.

Sim, se até eu fui perdoado, qualquer um pode ser. Se eu fui chamado, qualquer um o é. Se eu fui escolhido... Então quem não foi?

Quando essa consciência se instala em nós, os ciscos da alto-justiça caem dos nossos olhos, e o evangelho se desvenda como um grande transbordar do amor de Deus. Essas parábolas mencionadas aqui, ao mesmo tempo que esmagam os "donos da verdade", são um oceano de amor, de intenso amor de Deus para conosco.

Então, sabedor e possuidor dessa Verdade, viva-a com todo a intensidade e dedicação!

Viva o perdão, a generosidade e o amor prático d'Ele, e passe essa mensagem adiante.

Ela, a mensagem da Graça, a mensagem do Deus encarnado se reconsiliando com o mundo, a mensagem do perdão imerecido de Deus para nós, da loucura da Cruz, fez e faz toda a diferença na minha vida.

Também fará na sua.


Leo
Macaé

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